Geração Beat

Assim que bateu o último ponto final, Jack Kerouac (1922-1969) puxou o rolo de papel para telex que havia colocado em sua velha máquina de escrever, enrolou os 36 metros de texto e foi até Robert Giroux, seu editor da Harcourt Brace. O aspecto do escritor não era dos melhores: em três semanas – entre 9 e 27 de abril de 1951 –, ele havia datilografado quase 125 mil palavras em uma rotina de 14 horas diárias, aditivado por inúmeros comprimidos de benzedrina e embalado pelo bebop cheio de espontaneidade de Charlie Parker e Dizzy Gillespie. Ao fim desta verdadeira maratona, Kerouac havia concluído On the Road.

A grande inovação literária do romance biográfico é o estilo de escrita de Kerouac. Buscando a livre expressão de sua mente, através de algo parecido com o fluxo de consciência, Kerouac criou o método que chamaria de “prosódia bop espontânea”. Para o escritor, suas frases deviam soar como um solo de sax de Charlie Parker: espontâneas e rápidas. As inversões, a pontuação pouco ortodoxa, a falta de parágrafos e as pausas na história (no manuscrito original não existe um único parágrafo) tornaram a obra pouco apreciada pelos mais conservadores.
A expressão geração beat, ao contrário do que muitos pensam, não foi criado por Kerouac. O escritor ouviu a expressão de Herbert Huncke, famoso vagabundo de Times Square. O que ele fez foi perceber os múltiplos significados que a palavra oferecia: batida musical (da bateria do jazz), batida (como golpe), “exausto” (beated), pulsação e beatitute. Quando o movimento eclodiu, graças ao lançamento de On the Road, jornalistas cunharam o termo beatnik, utilizando um sufixo retirado do satélite russo Sputnik. Esse termo possuía um caráter político subentendido, que não condizia com o real interesse dos beats, já que a política não figurava entre seus maiores interesses.
Fragmentos do texto de André Sollitto - Revista Cultura

Nenhum comentário: