Leitura

Era um quintal ensombrado, murado alto de pedras. As macieiras tinham maçãs temporãs, a casca vermelha de escuríssimo vinho, o gosto caprichado das coisas fora do seu tempo desejadas. Ao longo do muro eram talhas de barro. Eu comia maçãs, bebia a melhor água, sabendo que lá fora o mundo havia parado de calor.




 Depois encontrei meu pai, que me fez festa e não estava doente e nem tinha morrido, por isso ria, os lábios de novo e a cara circulados de sangue, caçava o que fazer pra gastar sua alegria:onde está meu formão, minha vara de pescar, cadê minha binga, meu vidro de café?

Eu sempre sonho que uma coisa gera, nunca nada está morto. O que não parece vivo, aduba. O que parece estático, espera.

Poema de Adélia Prado -  Fotografia de Inês Dorês

Um comentário:

anjo disse...

Muito, muito bonito!
E obrigado pelas palavras de hoje no Sítio Peludo.