Philip Johnson
Revisão histórica? Criticismo agudo e exagerado do Movimento Moderno? Ou somente uma paródia ou brincadeira irresponsável às custas de uma tradição da qual o arquiteto americano Philip Johnson é um dos representantes mais importantes? Estas são uma das questões que surgem ao se visitar o pequeno pavilhão construído pelo artista tailandês Rirkrit Tiravanija no jardim de esculturas do Museu de Arte Moderna de Nova York. Tiravanija referenciou este projeto na famosa casa de vidro que Jonhson construiu na sua propriedade de New Canaan (Connecticut), em 1949. Nesta réplica as diferenças principais se constituem
na escala da estrutura – que aqui foi reduzida consideravelmente para acomodar principalmente as crianças – mas também no uso de materiais. Sendo um dos ícones do Modernismo, a casa Johnson utilizou aço e vidro como materiais dominantes. No caso do pavilhão de Tiravanjia o material principal utilizado foi madeira pintada, o que poderia ser interpretado como uma outra imagem de ‘redução’ às conquistas do International Style. Quando se observa o progresso deste jovem artista, identificamos uma trajetória que nos faz distanciar
da ironia inicial que o seu projeto sugere. Tiravanija tem criado durante a sua curta carreira artística instalações e performances com um caráter tipicamente participativo e simpático. Lembro-me que há uns dois anos visitei uma de suas ‘exposições’ na galeria 303 na mesma cidade, aonde, num quartinho de depósito atrás do espaço vazio da galeria, ele servia comida tailandesa com cerveja, numas mesinhas, como se fosse um bar de esquina. Mais tarde, na bienal do Whitney, ele construiu uma sala com material barato de construção, e dentro instalou instrumentos musicais utilizados na formação básica de uma banda de rock: guitarra, baixo e bateria, na qual, perante projeções de vídeo de movimentos político-sociais o visitante era convidado a tocar os instrumentos. Esta atitude que convida e atrai, que recebe e generosamente oferece, se distancia da rigidez que certas vertentes da arquitetura moderna colocou. O pavilhão criado por Tiravanija, que foi utilizado pelo museu como ponto de encontro de crianças e atelier de criação, se define pela própria ambiguidade visual, material e espacial, que se contradiz simultâneamente entre uma homenagem gentil e carinhosa ao Modernismo, e a análise rigorosa e meticulosa de uma tradição que requer uma revisão crítica constante. Ou como ele mesmo diz: ‘uma necessidade de se começar de novo’.
Fonte: Boletim Oculum - Eduardo Aquino
...Em vez de se ajoelhar diante as obras do passado, usá-las. Como Tiravanija inscrevendo seu trabalho numa arquitetura de Philip Johnson, como Pierre Huyghe refilmando Pasolini, pensar que as obras propõem enredos e que a arte é uma forma de uso do mundo, uma negociação infinita entre pontos de vista. Cabe a nós, espectadores, revelar essas relações. Cabe a nós julgar as obras de arte em função das relações que elas criam dentro do contexto específico em que se debatem. Pois a arte - e afinal não vejo outra definição que englobe todas as demais - é uma atividade que consiste em produzir relações com o mundo, em materializar de uma ou outra forma suas relações com o tempo e o espaço.
Nicolas BourriaudPÓS - PRODUÇÃO (Como a arte reprograma o mundo contemporâneo)Editora Martins
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