Cildo Meireles

Desvio para vermelho

Como construir catedrais
Meireles impacta os sentidos para criar idéias que, em muitos casos, não se limitam a uma simples realização estética, mas introduzem o espectador em uma experiência", explica o diretor do Macba, Bartomeu Marí.Veja algumas das que ele os aguardam no segundo andar do museu e na capela Macba. Neste último espaço, praticamente às escuras, a imagem imponente de uma torre de Babel de 5 metros de altura, formada por 700 rádios sintonizados em emissoras diferentes, convive com a inquietante "Volátil", num quarto escuro repleto de pó de talco e falso odor de gás; e a poética "Cruz do Sul", um diminuto dado feito de madeiras sagradas para os tupis, cujo tamanho, igual a um cubo de açúcar, lhe dá uma dimensão liliputiana no chão do quarto vazio.O mais espetacular visualmente e o mais explicitamente religioso é "Como Construir Catedrais", uma alusão às missões jesuítas na América do Sul: um tapete de 600 mil moedas e um dossel de 200 ossos de boi unidos por uma coluna de hóstias. "Trata-se de uma simples equação matemática: poder econômico mais poder espiritual, igual a tragédia", indica o criador, que no labiríntico "Através" semeia um mar de vidros quebrados; em "Globetrotter" cria as grandes travessias marítimas, cobrindo esferas de diversos tamanhos com uma malha de aço; convida ao jogo em "Eureka" (201 bolas de borracha da mesma cor e tamanho, mas cujos pesos oscilam entre 500 e 1.500 gramas) e uma inquietante experiência em três fases, em "Desvio para o Vermelho", na qual tudo começa em um quarto formado integralmente por elementos vermelhos, desde os quadros aos peixes ou os pimentões dentro da geladeira... vermelha.
Texto: Teresa Sesé - Tradução: Luiz R. Mendes Gonçalves

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